Nós vivemos num mundo
de mitos e imagens. Com o avanço dos meios de comunicação e o apalermamento
("burrificação") da sociedade, está havendo uma super-estimação da
imagem. As pessoas estão sendo acostumadas a não pensar, a não analisar, a não
avaliar. A apenas ver, gostar e levar para casa, sem verificar as
conseqüências, o que pode acontecer (e que efetivamente acontece) no futuro. A
nossa sociedade atualmente é altamente egocêntrica, inconsequente e feita de
sons (palavras ocas e bonitas) e imagens.
Lembro-me do comentário
de um colega acerca da época do rádio, onde muitas mulheres se apaixonavam
pelos locutores de rádio por causa de sua voz. Imaginavam que fossem altos,
musculosos, com ares de galã de cinema, e quando conheciam o tal locutor
pessoalmente, era uma decepção sem igual: muitas vezes feio, baixinho,
barrigudo, de óculos, e com uma careca avançando pela cabeça.
Na adolescência é
bastante comum as pessoas se apaixonarem pela beleza de outras pessoas. Às vezes,
o objeto dos desejos (e da paixão) pode ser um atributo em especial: pernas,
voz, rosto, cabelos, olhos, etc..
Infelizmente as
pessoas, todas elas, tem virtudes e defeitos. Como os dois lados de uma moeda.
E não há como nós retirarmos o lado ruim, o lado que nos desagrada.
A paixão é despertada
sempre por um lado bom, afável, agradável, bonito, forte, generoso, fascinante. E
nunca por uma qualidade feia, fraca, arrogante e destrutiva. Se bem que as
pessoas, às vezes, são capazes de ver beleza onde ela não existe...
Você já deve ter ouvido
a expressão "gosto de tal pessoa", ou algo semelhante. Gostar é um
termo egoísta, que significa "me agrada". Nós gostamos de algo ou
alguém que, por um motivo ou outro, nos agrada, nos atrai, e nos fascina.
Ocorre que o nosso gosto está sujeito à fadiga, ao cansaço, ao desgaste,
gerando o que chamo de "efeito chiclete". Você já ouviu falar do
"efeito chiclete"? Não? Bem, vamos lá, então. Chicletes são gomas de
mascar. Aqueles pedaços de restos de petróleo aos quais são colocados cores e
sabores. Esses pedaços de borracha mole são mastigados por algumas horas (ou
minutos) até que perdem o sabor. Então são jogados no lixo. Alguns vândalos
jogam nas calçadas, e o calor do sol faz com que grudem nas solas dos sapatos,
causando um incômodo tremendo. O problema que está a ocorrer é que algumas
pessoas (algumas?) usam as outras como se fossem chicletes. Elas ficam juntas
com outras pessoas que, por um motivo ou outro, lhes agradam, usando-as,
sugando-as, espoliando-as, usufruindo delas, às vezes desfilando com elas como
se fossem troféus. E chega um dia em que acaba o gosto, a paixão e a doçura de
sua companhia. Quando então tais pessoas são descartadas, abandonadas, jogadas
no lixo, desprezadas, com a seguinte explicação: acabou-se o que havia entre nós.
Só que pessoas não são chicletes, não são coisas. São pessoas, são seres
humanos que tem sonhos, valores, aspirações, desejos, almas que necessitam de
carinho, amor e compreensão.
Podemos ver o
"efeito chiclete" em casais que são invejados, cobiçados por milhões
de pessoas no mundo todo. São ricos, famosos e bonitos. Mas que também estão
sujeitos ao problemas comuns aos mais comum dos casais. Você já deve ter visto
ou ouvido falar de Bruce Willis e Demi Moore. São ricos, bonitos e famosos.
Passaram onze anos casados. E se separaram. Por quê? Porque não estavam mais se
entendendo. Porque se cansaram da beleza um do outro. Porque a paixão acabou. O
"gosto do chiclete" se perdeu ao longo dos anos tornando a
convivência estéril, insossa e, talvez, até mesmo odiosa... A beleza de um
corpo não é suficiente para a manutenção de um relacionamento.
Ingrid Bergman (ou
coisa parecida), foi uma atriz linda, famosa, rica, desejada e cobiçada há
quatro ou cinco décadas atrás. Ela fez um filme chamado "Casablanca",
onde fez o papel de uma mulher linda, inteligente, sensível, compreensiva,
abnegada, generosa, altruísta. Enfim, o sonho da maioria dos homens cansados de
aventuras e do jogo da vida. Depois que ela fez esse filme, ela se casou três
vezes, e muitos anos depois, confidenciou que aqueles homens haviam se casado
com Gilda (personagem do filme). Dormiram com ela e acordaram com Ingrid. Mais
uma vez, a beleza de um corpo não foi suficiente para manter um relacionamento.
A imagem de mulher com uma personalidade sensível, inteligente, compreensiva,
abnegada, e generosa (que apenas imagem era) foi destruída na manhã do dia
seguinte... De se colocar que nos casos de separação, há um ponto que passa ao
largo da maioria da população do mundo: a dor e as cicatrizes de uma separação.
Quando uma pessoa se
apaixona por outra, invariavelmente está interessada no que pode obter, sugar,
retirar, gozar, usufruir. Como uma fonte que mais cedo ou mais tarde vai se
secar, ou... como um chiclete que vai perdendo o gosto. Como um filme que vemos
várias vezes. A primeira vez nos traz uma sensação de alegria, mistério,
nostalgia, emoção e novidade. O que não ocorre com as vezes seguintes. É o que
também acontece com a paixão: não resiste ao tempo. E desaparece como a neblina
sob o calor do sol. A paixão é egoísta, e busca satisfazer o desejo do
apaixonado.
A própria beleza é
volátil, efêmera, transitória, passageira. Há algum tempo Isabella Rosselini,
filha de Ingrid Bergman, nascida de seu relacionamento com Roberto Rosselini,
foi demitida da agência de modelos para a qual trabalhava. Já está com mais de
40 anos de idade, e continua linda como sempre foi, mas não mais o suficiente
para os padrões do mundo da moda.
A beleza de um corpo
não é suficiente para a manutenção de um relacionamento. Não apenas a beleza,
mas quaisquer atributos sobre os quais fundamentamos nossos sentimentos.
O segredo de um
relacionamento produtivo e duradouro, é não dar muita importância ao que
podemos receber do outro, mas sim o que podemos fazer pelo outro. O que
acontece é que algumas pessoas (algumas?), inconscientemente, estão em busca da
satisfação de suas necessidades de carinho e companhia. Até que acaba o
encanto, a doçura e o mistério e as coisas começam a "andar pra
trás". Mas não compreendem porque as coisas não dão mais certo entre si.
Outras pessoas (uma
grande maioria), agem de forma consciente e deliberada: estão apenas a usar as
outras pessoas para seus propósitos egoístas. Depois que conseguem o prazer que
desejam... abandonam "o bagaço" sem o menor pudor ou cerimônia.
Uma vez eu conheci uma
mulher bonita, com classe, determinada, inteligente. Mas também fútil, vaidosa
e arrogante. Com cerca de 30 anos de idade, já estava com sua vida em ruínas.
Já havia tido três ou quatro relacionamentos amorosos. Homens que se sujeitavam
aos seus caprichos e seus desmandos até que conseguiam o que queriam. Depois
disso.... bem você pode imaginar o que acontecia.
Quando a conheci, ela
estava "enrolada" com um marginal, um criminoso que a maltratava, e a
explorava. Estava presa a esse homem que a ameaçava de morte. Não sei o que ela
viu nesse bandido. Quando eu o vi, estava malvestido, magro e feio. Despenteado, com a barba por fazer, e com
dentes desalinhados. E ela permitiu que ele a dominasse e a aprisionasse. Talvez
quisesse apenas usá-lo, como fez com os anteriores, mas desta vez, o molho saiu
mais caro do que peixe...
Eu gostaria de colocar
nesta oportunidade que ninguém jamais será feliz sobre as ruínas da vida de
outras pessoas. Utilizar-se de outras pessoas para conseguir o que se deseja
(prazer, diversão, fama, fortuna, joias, etc), é uma prática perniciosa e
destrutiva. E utilizar-se do próprio corpo para conseguir o desejado é uma
coisa que a Bíblia chama de "prostituição".
Para que uma união
convalesça, perdure e frutifique, é necessário que haja uma união de almas, de
objetivos, de espíritos, e não somente de corpos, como é frontalmente alardeado
pelos filmes, pelas músicas e pelas novelas da TV.
Amar é dar maior
importância à felicidade da pessoa amada do que à própria felicidade. Nós somos
felizes à medida que fazemos com que as pessoas que estão conosco sejam
felizes.
Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam,
fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.(Mt.7:12)
Sede misericordiosos, como também vosso Pai é
misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não
sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida,
recalcada, sacudida e transbordando vos deitarão no regaço; porque com a mesma
medida com que medis, vos medirão a vós. (Lucas 6:36-38)
Takayoshi Katagiri
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